Mais investimento
estrangeiro
precisa-se para os PALOP

27.08.2025 -
Informações sobre os
PALOP disponíveis no
último Relatório Mundial
de Investimento 2024, da
UNCTAD, são referentes a
2022 e indicam que o IDE
nestes Estados rondou os
2,3 mil milhões de
dólares no período.
O Investimento Directo
Estrangeiro (IDE) nos
países africanos de
língua oficial
portuguesa (PALOP)
rondou os 2,6 mil
milhões de dólares no
ano de 2022, como
indicam os dados do
Relatório Mundial sobre
Investimento.
Moçambique foi
‘carro-forte’ da
atracção de investimento
para o bloco lusófono
africano, enquanto
Angola se posiciona como
o ‘elefante na loja de
porcelana’, com registos
de IDE negativos desde
2019.Numa perspectiva
mais abrangente, o
continente africano
registou um total de
44,9 mil milhões de
dólares em IDE, em 2022,
de acordo com o mesmo
documento, que evidencia
uma queda de 34,6 mil
milhões de dólares em
IDE no ‘continente-berço’,
já que no ano de 2021 o
IDE se posicionou nos
79,5 mil milhões de
dólares.
ANGOLA
Em Angola, os dados do
banco central apontam
para a entrada de 2,3
mil milhões de dólares
em investimento directo
estrangeiro no primeiro
trimestre do ano em
curso.De acordo com os
números disponibilizados
pelo Banco Nacional de
Angola (BNA), o sector
petrolífero foi o
principal motor da
atracção de
investimento, ao
mobilizar 2,1 mil
milhões de dólares,
enquanto o
não-petrolífero foi
responsável pela
atracção de 133 milhões
de dólares.
Com uma situação social
no limite, taxa de
desemprego a rondar os
30% e mais de 80% dos
empregos no informal,
Angola precisa do IDE
como que de pão para a
boca, já que a
população,
maioritariamente jovem,
tende a agravar os
níveis de desobediência
civil e criminalidade
quando não ocupada, com
o agravante de o país
possuir uma taxa de
crescimento populacional
na ordem dos 3%/ano.
A Agência de
Investimento Privado e
Promoção das Exportações
(AIPEX) aponta para
intenções de
investimento a roçarem
os 848,8 milhões de
dólares nos primeiros
quatro meses de 2024, o
que acaba por não
responder às
necessidades de um país
e de uma população jovem
e sedenta por empregos.
Adiciona-se aos dados
que até mesmo no campo
das intenções de
investimento há a marca
de uma diminuição, que,
segundo os dados da
AIPEX, se posiciona em
1000 milhões de dólares
no mesmo período de
2023, contra os actuais
848,8 milhões de
dólares.
Mas nem tudo são coisas
exactamente más, já que,
apesar da queda nas
intenções de
investimento no país, o
investimento directo
estrangeiro cresceu,
tendo se posicionado
acima dos 21% no
primeiro quadrimestre do
ano em curso, contra os
cerca de 10% em 2023.A
AIPEX, criada para ser a
principal porta de
entrada para o
investimento no país,
enfrenta desafios, pois
alguns investimentos,
inclusive notáveis, não
passam pela agência,
como fez saber em
entrevista recente à
Forbes África Lusófona o
presidente do seu
conselho de
administração, Arlindo
das Chagas Rangel.
O gestor explicara, no
entanto, que não há
obrigatoriedade de
registo dos projectos de
investimento na AIPEX,
com Angola a garantir
aos investidores
estrangeiros os mesmos
direitos que aos
nacionais, mesmo sem o
registo dos seus
projectos.
No entanto, a AIPEX é a
instituição do Estado
que vê o investidor como
um parceiro e é também a
única que pode atribuir
incentivos ao
investimento privado no
país. “A não
obrigatoriedade é um dos
passos mais importantes
para garantirmos a
transparência dos
processos e a agilidade
dos investimentos,
assegurando que todos os
investidores sintam
confiança em utilizar os
nossos serviços”,
realçou Rangel.
Considerando o actual
cenário económico global
e suas implicações para
Angola, a AIPEX
identifica sectores
prioritários para atrair
novos investimentos.
Angola tem como
objectivo principal
atingir a segurança
alimentar e diminuir a
dependência das
importações em produtos
da indústria alimentar,
farmacêutica e outras
indústrias de bens de
consumo. Rangel
mencionou que Angola tem
capacidade de ser
competitiva em outros
sectores além do
petróleo.
“Por exemplo, Angola é
um exemplo de
modernidade no sector da
energia, em particular
das renováveis, onde,
além das múltiplas
intenções de
investimento, temos hoje
66% da energia produzida
de fontes renováveis”,
indicou, em jeito de
chamariz aos
interessados em
investirem na maior
economia dos PALOP.
Apesar de ostentar o
estatuto de maior
economia entre os países
lusófonos do ‘continente-berço’,
a nação liderada por
João Lourenço não consta
da lista dos 10 países
africanos com os maiores
investimentos directos
estrangeiros (IDE), de
acordo com o último
relatório mundial de
investimento 2024, da
Conferência das Nações
Unidas sobre Comércio e
Desenvolvimento (UNCTAD,
na sigla em inglês).
CABO VERDE
Dados do Banco de Cabo
Verde consultados pela
Forbes África Lusófona
mostram que o IDE no
país se posicionou nos
2,7 mil milhões de
escudos (27,1 milhões de
dólares) no primeiro
trimestre deste ano.
O Estado português, com
871,7 milhões de escudos
(8,7 milhões de
dólares), é o principal
país de origem do
investimento estrangeiro
em Cabo Verde, no
período em referência,
seguido de longe por
Angola, que investiu
167,5 milhões de escudos
(1,6 milhões de dólares)
naquele arquipélago.
No último lugar neste
ranking dos maiores
países de origem do
investimento directo
estrangeiro em Cabo
Verde encontra-se a
Itália, que investiu,
mostram os dados, 120,9
milhões de escudos (1,2
milhões de dólares). O
resto do mundo investiu
um total de 1,5 mil
milhões de escudos,
pouco mais de 15 milhões
de dólares em Cabo
Verde, ao longo do
primeiro trimestre de
2024.
No que tem que ver com
as cidades beneficiadas,
chama a atenção o facto
de quase todas terem
recebido investimento,
portanto, uma democracia
no que ao investimento
diz respeito. Mas há
destaque natural para
Santiago.
Veja-se que os
portugueses, maiores
investidores em Cabo
Verde, preferem investir
na ilha de Santiago,
tendo no período o
volume de investimento
atingido os 674 milhões
de escudos (6,7 milhões
de dólares), enquanto
Angola, segundo maior
investidor em Cabo
Verde, investiu 166
milhões de escudos
naquela ilha (1,6
milhões de dólares.
Os dados indicam que o
IDE caiu cerca de 200
milhões de escudos,
acima de 2 milhões de
dólares,
comparativamente aos 2,9
mil milhões de escudos
(29,1 milhões de
dólares) que tinham sido
registados em
investimento estrangeiro
no último trimestre do
ano de 2023.
O total de investimento
estrangeiro em Cabo
Verde no ano de 2023 foi
de 16,1 mil milhões de
escudos (161,8 milhões
de dólares), sendo que
Portugal manteve a
posição de maior
investidor.
SÃO TOMÉ E PRÍNCIPE
Descrito pelo Banco
Mundial como um país
pequeno, de duas ilhas,
de rendimento
médio-baixo, com cerca
de 960 quilómetros
quadrados, São Tomé e
Príncipe (STP) possui
uma significativa
riqueza natural
inexplorada, incluindo
florestas tropicais
virgens e uma
biodiversidade rica e
única, o que é favorável
ao turismo baseado na
natureza.
O país tem uma população
jovem e cada vez mais
instruída. Cerca de
metade das 225 000
pessoas de STP têm menos
de 18 anos, com uma taxa
de matrícula no ensino
secundário de 89%.
De resto, o país dispõe
de um conjunto de
condições que favorecem
o investimento directo
estrangeiro e que
levaram a que o valor
médio de IDE em São Tomé
e Príncipe, durante o
período entre 2001 e
2022, fosse de 12,58% do
PIB, com o mínimo de
3,06% registado em 2004
e o máximo de 42,09%
registado em 2008, sendo
que os dados mais
recentes datam de 2022 e
são 23,35%, como indica
o The Global Economy.
De acordo com o
“Relatório de
Investimento Mundial de
2023” publicado pela
UNCTAD, até finais de
2022, São Tomé e
Príncipe atraiu 490
milhões de dólares em
stock de investimento
directo estrangeiro.
Um investimento que se
mostra fundamental, já
que o país lusófono
africano enfrenta
desafios estruturais
típicos de países
pequenos e remotos. A
pequena dimensão de STP
e o baixo número de
habitantes limitam o
desenvolvimento de
actividades económicas
em grande escala, o que
resulta numa base
produtiva pequena e
pouco diversificada.
GUINÉ-BISSAU
No período entre 1970 e
2023, o valor médio do
IDE na Guiné-Bissau foi
de 0,17 mil milhões de
dólares, com o mínimo de
0,04 mil milhões de
dólares em 1974 e o
máximo de 0,47 mil
milhões de dólares em
2023.
O Programa das Nações
Unidas para o
Desenvolvimento (PNUD)
aponta a corrupção e
insuficiências no Estado
de direito como
potenciais empecilhos ao
investimento directo
estrangeiro na
Guiné-Bissau.
Entretanto, no documento
do PNUD, intitulado
“Construir um Futuro
Melhor para o Ambiente
de Negócios na
Guiné-Bissau”, salta à
vista o relato de que as
empresas formais na
Guiné-Bissau “sofrem de
falta de acesso ao
crédito”.
Conforme os dados,
apesar de um aumento do
total de empréstimos
concedidos às empresas e
dos empréstimos
concedidos às empresas
em proporção do produto
interno bruto (PIB) nos
últimos 20 anos, a
maioria das empresas
opera numa situação de
penúria absoluta de
crédito, já que apenas
25% das empresas alguma
vez receberam um
empréstimo de alguma
espécie.
Acresce a isso um
cenário político com uma
história de fragilidade
política e institucional
que remonta ao tempo da
sua independência de
Portugal em 1974, sendo
dos mais propícios a
golpes de Estado e que
empurra para zonas
cinzentas todas as
intenções de
investimento no país.
O PIB per capita da
Guiné-Bissau é um dos
mais baixos do mundo,
enquanto o Índice de
Desenvolvimento Humano (IDH)
também é um dos piores
do planeta.
Não obstante um contexto
de muita burocracia e de
infra-estruturas pouco
desenvolvidas, o país
apresenta um potencial
de progresso na
exploração de recursos
minerais, como os casos
do fosfato e da bauxite,
continuando assim a
merecer a atenção dos
investidores, tendo
recebido 22 milhões de
dólares em investimento,
no ano de 2022, como
indicam os dados do
Banco Mundial.
GUINÉ EQUATORIAL
De acordo com o
“Relatório de
Investimento Mundial de
2023” publicado pela
Conferência das Nações
Unidas sobre Comércio e
Desenvolvimento (UNCTAD),
verifica-se que, até
finais de 2022, a Guiné
Equatorial terá atraído
o stock de investimento
directo estrangeiro no
valor de 15,89 mil
milhões de dólares.
Os dados do The Global
Economy, consultados
pela Forbes África
Lusófona, indicam que o
valor médio da
relevância do
investimento directo
estrangeiro sobre o PIB
na Guiné Equatorial, no
período entre 1996 e
2022, foi de 16,38%,
sendo que o mínimo é de
-4,02%, registado em
2008, e o máximo é de
161,82%, alcançado em
1996. Os números mais
recentes remetem ao ano
de 2022 e indicam uma
relevância de 3,81%,
cerca de 460 milhões de
dólares.
A falar na primeira
Cimeira de Negócios da
Confederação Empresarial
da Comunidade de Países
de Língua Portuguesa (CE-CPLP),
o presidente da Guiné
Equatorial, Teodoro
Obiang Nguema Mbasogo,
tentava convencer
potenciais investidores
com o argumento de que o
país que lidera goza de
estabilidade política, o
que o converte num
destino propício para o
IDE.
Teodoro Obiang indicou
ainda, na ocasião,
algumas das áreas em que
diz existirem “vastas
oportunidades” para a
realização de parcerias
económicas, como as de
energia, pescas,
agricultura, indústrias
transformadoras,
turismo, hotelaria,
formação, transportes e
recursos humanos.
Mas a atracção de
investimento para o país
que está localizado no
golfo da Guiné,
organizado
essencialmente em duas
divisões regionais,
nomeadamente a Região
Continental e a Região
Insular, não é
exactamente fácil, já
que o actual presidente
da Guiné Equatorial,
Teodoro Obiang, tem mais
de três décadas de poder
e mostrou sempre pouca
tolerância para a
oposição.
Assim, a Guiné
Equatorial, que desde
2004 se tornou o
terceiro maior produtor
de petróleo da África
Subsariana, é
nominalmente uma
democracia
multipartidária, mas as
eleições têm sido
constantemente
consideradas
“fraudulentas”.
Outro ‘ponto negro’ que
concorre para
inviabilizar o IDE na
Guiné Equatorial é a
governação de Obiang,
descrita como uma
ditadura, pela
prestigiada organização
Human Rights Watch, que
acusa mesmo o presidente
da República de estar a
usar o boom do petróleo
para consolidar e
enriquecer-se ainda mais
à custa da população do
país.Tudo culmina numa
instabilidade que chama
a atenção e que acaba
por afastar
investimentos.
De
notar que foram 12
tentativas de golpe de
Estado malsucedidas
desde Agosto de 1979,
como indicam os dados a
que a Forbes teve
acesso.
MOÇAMBIQUE
O investimento direto
estrangeiro (IDE) em
Moçambique cresceu 2% em
2023, face ao ano
anterior, para pouco
mais de 2,5 mil milhões
de dólares, segundo
dados do banco central
do país do Índico,
ficando acima da
projecção do Governo,
que era de 1,4 milhões
dólares.
Este desempenho é
comparável com os 2,4
mil milhões de dólares
em 2022, mas fica ainda
longe do pico, que foi
registado em 2021,
quando o IDE em
Moçambique ascendeu a
5,1 mil milhões de
dólares. Muito
impulsionado pelo
investimento em “grandes
projectos”, na área da
produção de gás natural.
Para o futuro, o governo
moçambicano estima que o
IDE duplique, já que o
Plano Económico e Social
do Orçamento do Estado (PESOE)
para 2024 aponta para um
crescimento do IDE de
4,7 mil milhões de
dólares, já neste ano.
Uma melhoria, indica o
documento, influenciada
maioritariamente pela
retoma dos investimentos
da TotalEnergies na
bacia do Rovuma.
Adiciona-se a isso que o
Governo estima um
incremento assinalável
de importações de
serviços especializados
por parte dos grandes
projectos em curso no
país, como o caso da
retoma da operação por
parte da TotalEnergies
em Cabo Delgado,
avaliado em mais de 20
mil milhões de dólares,
suspenso desde o início
dos ataques terroristas
naquela província do
Norte do país, ou o caso
da expansão de “plantas
de produção de outros
projetos, como a
Montepuez Ruby Minning,
HCB [Hidroelétrica de
Cahora Bassa] e Coral
North FLNG”, que poderão
exigir um aumento
considerável das
importações de bens e
serviços, podendo vir a
superar o aumento que se
espera das exportações,
com o início da
exploração do gás
natural.
